Desde sempre tem orado a humanidade, as mãos postas sobre o peito ou inertes sobre o chão ou elevadas para o céu.
Têm orado os homens pela saúde, pelo pão, por amores que não voltam, por uma morte serena, por um lugarzinho junto a Deus, têm rezado pela paz.
No que tange a esta última, por que será que a Paz não existe entre os homens ou ocorre tão somente entre as pessoas de uma mesma crença ou uma mesma etnia? Por que será que Deus não nos escuta em nossas preces pela paz?, pois que são gregos contra troianos; franceses contra belgas; espanhóis contra portugueses; ; alemães contra judeus; iranianos contra iraquianos; russos contra chechenos; sérvios contra albaneses; baianos contra pernambucanos; campinenses contra pessoenses; nós contra nossos vizinhos. Brancos contra negros; homens contra mulheres; jovens contra velhos; ricos contra pobres; protestantes contra católicos; católicos contra ateus e contra os ecumênicos, todos esses – e nós contra o mundo, escolhendo bodes-expiatórios para nossas crimes e pecados, dizendo sempre que a culpa é sempre dos outros.
Diante de tudo isso, Deus está surdo às nossas preces ou de fato já morreu? Ou, doutra forma, por que buscar em Deus o que é da inteira responsabilidade do homem?
Acerca dessa odienta guerra particular que travamos com o mundo todos os dias, ensina-nos René Girard: “A vítima expiatória substitui a violência de todos contra todos, pela violência unânime de todos contra um, fundando assim a comunidade”. E nos diz Freud: “É sempre possível unir um considerável número de pessoas no amor, enquanto sobrarem outras pessoas para receberem as manifestações de sua agressividade.” Ou seja: Cada um de nós atribui sempre ao outro a causa de todo o mal – mal esse que, na verdade, está radicado dentro de nós mesmos, pelo menos como potência ou possibilidade de escolha.
Assim sendo, nem Deus está surdo, nem morreu, cabendo-nos formular corretamente a questão: Será que temos orado da forma que Deus deseja?
E, assim, necessário a oração: Necessário orar todos os dias pelo auto-conhecimento, fazendo de cada instante uma oração.
E sobretudo necessária a oração, aliando-se à prece o gesto pacífico e a ação pacificadora: Entre a prece pela paz e a paz concreta, de fato, talvez nos falte a intenção de realmente abrir os braços, as mãos, o coração ao amigo mais distante e ao mais próximo dos inimigos, pois para a Paz – que apenas e exatamente começa em cada um de nós - existe apenas o caminho que vai do coração às nossas mãos: o caminho da tolerância, o caminho da aceitação do outro como ele é e embora diferente, nosso Irmão...
Se formos hoje, assim, sinceramente pacíficos, com certeza, será Paz amanhã.
DR. EDMUNDO GAUDÊNCIO – Março 2000
DR. EDMUNDO GAUDÊNCIO – Março 2000
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